sábado, 29 de outubro de 2011

Multietnicamente Mineral


Pra ficar com o cooper feito




Impelido por aquele espírito corajoso e sagaz pertinente a quem busca por uma vida saudável, acordei bem cedo para me exercitar. Tinha planejado correr e nadar na Água Mineral.

O ar ainda estava frio quando entrei pela Trilha da Capivara. Mil e seiscentos metros de pura Mãe Natureza, que beleza...

Raios de sol versejavam por entre as frestas de floresta, aquecendo lentamente a superfície do Planeta. As abelhinhas farejavam o mel de flores exibidas pelas clareiras ensolaradas, enquanto passarinhos diversos impunham musicalidades pontuais, aqui e acolá. Ora ou outra, um calango atravessava, esbaforido, pelo caminho. Tudo muito lindo!

Nesse tempo, esta trilha era conhecida apenas por alguns haribôs, espécie de bosque sagrado, mocó obscuro, com intervalos de mata semi-cerrada muito sombreados e úmidos, frequentado por mais espécies que a tal raça humana. Mais de uma vez, cruzei com cobra por ali, a ponto de dar o jump por cima da bicha no último segundo.

Em meio à leve corrida que eu ameaçava iniciar, avistei um pequeno grupo logo à frente. Estavam caminhando no mesmo sentido que eu. Cinco ou seis pessoas vestidas com roupas simples, como as pessoas do campo. Caminhavam lentamente, olhando para todos os lados. Diminuí o passo por pertinente curiosidade antropológica.

Não eram moradores da cidade, nem atletas ou sequer habitués. Um velho usava um chapéu de palha e calçava sandálias de couro. As mulheres, vestidos simples, feitos de pano claro, além de havaianas. Estavam excitados com algo.

Havia com eles duas crianças; eram as mais agitadas. Pareciam todos procurar por alguma coisa pelo mato, mas pararam momentaneamente, assim que me aproximei. Não esperavam por um barbudo saindo do nada, só de calção de banho. Passei ao lado, dei bom-dia e sequência à corrida.

Enquanto completava a primeiravolta, me pus a pensar nas diferentes visões que a Mineral enseja às pessoas que a frequentam. O que para uns é clube social, para outros, recanto espiritual, spa de saúde mental ou praça de ginástica; há muitas utilidades que são apropriadas por cada um, cada qual ao gosto seu, configurando-se num lugar extremamente democrático e multicultural, sem dúvidas.

E aquela gente provinciana, o que estaria fazendo aqui, tão cedo? Jogging que não era, suponho... O que estariam buscando pela mata? O que fazia aquelas crianças estarem tão felizes? Com a cabeça longe, pensando nisso tudo, fui surprendido por um filhote de tatu que surgiu do mato e quase tropeça em mim, antes de sumir pela trilha. Esplêndido!

Na volta seguinte, já empolgado com as idéias que vinha tendo, os encontrei novamente. Desta feita, vinham em minha direção. Certamente haviam decidido voltar por não conhecerem bem o local; ignoravam que a trilha se encerrava num ciclo, e que havia muito para se ver. "Vou alertá-los sobre a beleza que há por lá", pensei.

Conversavam animadamente e festejavam algo. As crianças, incontidas, pulavam em torno aos adultos e olhavam para dentro de um saco de estopa que o velho trazia às costas. Ia eu parando para dar as boas novas quando ouvi uma das mulheres exclamar: "A carne é difícl de assar e dá trabalho, mas fica bom pra chuchu!..."

Dentro do saco, coitado, jazia o tatu.
 
 foto de joão sassi

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Um Velho Ranzinza


"Humpf! Não se fazem mais moleques como os de outrora!", range o saudoso velhote.
 
   

Da minha janela, vejo o mundo!
Algum poeta há de ter dito algo assim, pois desde os tempos de antanho - e muito antes dos irmãos Lumière! -, a janela tem sido o cinema da vida. E por ela se percebe que vai muito mal a humanidade.
Que me desculpem os grandes líderes, heróis e eventuais mártires de nossa decadente espécie. Sei que agiram como visionários, dando o máximo de si - por vezes, a própria vida - em prol de todos, objetivando um mundo melhor e coisa e tal, mas dá a impressão que o trabalho dos otimistas, ao longo da história, tem sido ao estilo enxugador de gelo.
Por mais que se enxugue, a situação apenas piora. E assim como a água, vê-se a essência da condição humana escorrendo diante dos nossos olhos, e sendo desperdiçada pela falta absoluta de consciência e preparo do indivíduo contemporâneo.
Pela poça formada de massa encefálica liquefeita, vejo o futuro da sociedade refletido no fértil palco da puberdade. Em direção à escola, logo a frente, um fluxo constante de adolescentes me dá conta do cotidiano corrente. Não são educados, mas prepotentes. Agem com tais rudes modos que fariam a vovozinha corar, e logo enfartar.
Vejo pequenas gangues, com meninos de palavreado xucro, agindo como malas da favela. Não se envergonham em xingar alto, na frente das meninas e dos moradores. Já aos 12 anos, alguns exibem cigarro à mão, pego de mau-jeito, feito apenas para impressionar as mesmas meninas com as quais presenteiam com tanto palavrão.
Quando querem conversar, se escoram ou se sentam nos carros estacionados de modo indolente. Na interação, as mocinhas são chamadas de "véi", "hômi", "moço" e "doido". Elas não deixam por menos e os tratam da mesma forma. Todas as expressões de surpresa são pontuadas por "carái, véi", sejam ditas por eles ou por elas.
Alguns estudantes namoram desinibidamente, aos olhos de qualquer morador, desavergonhadamente. Não se constrangem com a chegada de alguém. Sequer disfarçam a bulinagem. Mal sabem que escondido é mais gostoso... E também respeitoso.
Há aquelas que matam aula para se encontrarem com sujeitos que poderiam ser pais delas, e não namorados. O cidadão chega de terno, no maior carrão, e desce de mãos dadas com aquela que se supõe sua filha, e tasca o maior chupão, sem a menor cerimônia, na frente de todo mundo. E sai com cara de paisagem.
Certa vez, no estacionamento, escutei a conversa de três meninas que estavam sentadas no meio-fio, logo à minha frente. Ainda que tenham percebido minha presença, não sei se por desavergonhamento ou arrogância, prosseguiram tranquilamente com o tricot. Não falavam da Hanna Montana ou do Justin Bieber, mas da experiência sexual de uma delas.
Sem ter exatamente a noção da profundidade do que relatava, a menina descrevia, passo-a-passo, o momento em que se viu na obrigação de praticar sexo oral em seu "namorado", ilustrando as passagens com rico gestual. Segundo suas palavras, "no momento em que ele parou o carro, ele abriu a braguilha, botou o negócio dele para fora e me perguntou: E agora? Aí, eu nem pensei mais, véi; fechei os olhos e meti a boca...".
Como plateia, duas amigas, ainda mais novasque ela, escutavam, alucinadas e abobadas, ao apimentado relato da colega. Queriam saber o tamanho, a "grossura", o gosto e tantos quantos detalhes pudessem ser dados. E a outra mostrava, tocando o dedo médio à ponta do dedão: "Era mais ou menos assim, ó...".
   - Mas você foi até o fim?! – queriam saber as mocinhas.
   - Não, véi; dói demais! Ele disse que vai tentar de novo, na próxima vez...
   - E você vai?
   - Vou, né, véi... Fazer o quê? Tem que ir, senão ele vaza!
Sei que essa é uma situação comum a muitas mulheres, principalmente quando se apaixonam por homens mais velhos (e sem caráter). O problema é ainda mais grave quando uma situação assim é relatada por uma criança de não mais que 13 anos; aí, o chão se move.
E eu, que tanto prezo por aquilo que chamamos tradição, vejo o romantismo ser pisoteado, e a falta de respeito sobrepujar a todos nós. Vejo crianças sendo atropeladas pela ansiedade do mundo digital e perdendo o mais gostoso momento da vida, que é a descoberta do mundo em si, e de tudo o que o engloba, com suas diversas experiências e inescapáveis consequências. Por vezes, frustrantes, mas espontâneas!
Vejo meninas novas, já envelhecidas e maquiadas. Vejo meninos novos, já embrutecidos, embriagados de prepotência e virtual experiência. "O novo é o certo! O novo somos nós! O resto é bosta velha!", pulsa o inconsciente juvenil.
Ao me lançar imaterialmente pela janela, busco um horizonte lúdico e nostálgico, azul!, mas vejo uma realidade de mau-gosto e acinzentada; pouco saborosa. Vejo, sinto e percebo. Me angustio.
E dessa mesma janela, vejo também o exemplo daquelas crianças: uma escola particular, construída de modo vil e irregular, que saúda a chegada da Primavera ou de São João atordoando a vizinhança com o alto volume de um funk proibidão. É ali que aquelas almas passam seus dias...
Um lugar assim não pode ser mesmo uma fonte de inspiração para o futuro que desejamos. E ainda há quem pague para seus filhos estarem ali.
Bem-vindo ao século XXI.


foto de joão sassi
direitos reservados

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A Paz de Cada Qual


Dia de luz, festa do Sol, e o barquinho a deslizar...
 

Cerca de dois anos atrás, o escocês Stephen Gough foi parar na cadeia.

A polícia o acusara de "perturbação da paz". Logo a paz, que, tal qual a utopia, nos estimula a caminhar, sempre a buscar por ela em nosso cotidiano de violência e desamparo.

Antes de virar prisioneiro, Gough havia sido marinheiro e caminhoneiro, não tendo, porém, encontrado nessas atividades o seu "eu natural e verdadeiro", o que o levou a se indispor com toda a sociedade.

Isso me despertou a desconfiança de que, de algum modo, a escolha de nossa profissão embutiria a possibilidade de nos redescobrirmos por meio da atividade exercida. Um redescobrir psicanalítico; cosmológico, por assim dizer, que nos conduzisse a uma paz interior, mas também coletiva - consequência clara do equilíbrio estabelecido.

Lembro, por exemplo, de uma estudante de psicologia que conheci na adolescência. Ela se utilizava de seus grandes olhos azuis para hipnotizar o interlocutor e extrair do abobabo suas necessidades. Da convivência, o que talvez tenha mais despertado minha curiosidade foi a percepção de que todos os psicólogos seriam doidos, e que “usariam” as outras pessoas para psicologarem-se a si próprios.

Aquele tanto de "por quês" com os quais estes profissionais pontuam os diálogos, mesmo em situações informais, não é gratuito; eles só querem se certificar que somos loucos – tão loucos como eles - para se sentirem mais tranquilos em relação à própria existência. Disso não me restam dúvidas.

Algum tempo depois, tive a oportunidade de ter contato com o mundo das artes cênicas, quando pude conhecer atores e atrizes, ficando logo claro que todos eram loucos também. A exemplo dos psicólogos, os atores se utilizam da condição em que se encontram para tornarem seu ofício um escoadouro para suas neuroses.

Quem frequentou sets de filmagem ou assistiu a ensaios teatrais sabe o que é um hospício; um bando de loucos ávidos por terapias grupais de psicanálise. Podem fazer qualquer coisa; podem ser qualquer coisa... Qualquer coisa! Difícil imaginar coisa melhor. Representar é a arte de psicanalisar, em público, a própria existência.

Demorou algum tempo até que eu me debruçasse sobre os antropólogos, quando pude, então, confirmar minhas suspeitas iniciais. Confesso que senti grande alívio por saber que não estava só nesse mundo.

Essa coisa de jogar uma determinada responsabilidade para o outro, tornando-o foco de sua pesquisa, não deixa de ser um refúgio confortável para aqueles que querem, conforme adverti no início, se redescobrir como indivíduo numa sociedade cada vez mais dicotômica e neurótica. O antropólogo parece querer sair de si para se reconhecer no outro, reencontrando-se consigo fora do seu espaço real, mas dentro de sua natureza primária e, portanto, mais "verdadeira".

Psicólogos, atores, antropólogos e toda a humanidade, no entanto, não precisam se preocupar com tanto estudo e especialização na busca de cada qual pelo seu EU verdadeiro ou pela sua paz interior.

Dia desses, poucos minutos após ser posto em liberdade, Stephen Cough, nosso heróico escocês, voltou a ser preso. Alegação: se recusar a usar roupas e perturbação da paz, disse o juiz - exatamente pelas mesma razões de outrora, quando atravessara toda a região da Cornuália em pêlos.

Durante os 60 segundos de liberdade, esteve nuzinho, de mão no bolso e tudo, exatamente como veio ao mundo. Nada mais humano, portanto! Stephen se sente mais livre na cadeia - mas pelado - do que fora dela, tendo de se vestir.

Encontrou-se.


(Aproveito para mandar um beijo especial à Brasil, a mais doida de todas as psicólogas que conheci e amiga de toda uma vida.)




foto de joão sassi


terça-feira, 4 de outubro de 2011

Simba Simbólico


Simba era apenas um ponto preto na estrada.


Quando minha mãe soube que eu cuidaria de um cachorro abandonado, ela viu um grande simbolismo na minha atitude: "Tornar-se responsável por uma vida; é este o primeiro passo para que um dia você possa ter um filho."

Lembrei também daquela tradição que contam sobre os judeus que afirma que eles presenteiam as crianças, ainda pequeninas, com animais de estimação, fazendo com que os pimpolhos aprendam a lidar com a idéia da morte e com a sensação de perda, desde sempre, evitando que sofram mais quando conhecerem a vida como ela é.

A mim, em meio à solidão que uma casinha no mato me oferecia, era a oportunidade de aprender coisas novas, me permitindo conviver com um tipo de bicho com o qual eu nunca fizera questão de me relacionar, senão no que fosse indispensável.

Ao leitor que me acompanha desde 2009, não é necessário relatar o quanto esta parceria vicejou e o quanto aprendi com Simba. Ainda mais quando ele adoeceu, tendo merecido de mim sentimentos de compaixão os mais bonitos; foi quando nos tornamos cúmplices.

Após quase 3 anos de compadrio, tendo a antiga morada sido deixada para trás, Simba pôde conhecer novos ares ao ser carinhosamente acolhido por com um bucólico casal de amigos. Eles também tem muito a ganhar com Simba por perto; além da proteção, ganham um olhar de afeto. E assim tem sido, desde há alguns meses, quando o deixei em boas mãos.

De vez em quando, passo por lá, de surpresa, a ver como o gajo está. É sempre prazeroso rever um cachorro que lhe estima.

O sol estava forte, e então me lembrei que deveria visitar o velho Simba. A reboque, lembrei de descolar um shampoo canino e, para alegrar o bom cão, vísceras desidratadas que fazem a alegria das matilhas.

Quinze minutos depois, eu escutava um chorinho qualquer pelas ondas da Rádio Nacional e me sentia feliz por ser Sexta-feira. Já estava noutro mundo, dirigindo por uma estradinha de terra vicinal, de mão única, em meio ao Cerrado, vislumbrando uma paisagem que logo deixará de existir. O Plano Piloto é cada vez mais ancho, ao contrário da mentalidade da gente.

Quando cheguei, enfim, ao seu novo lar, não encontrei em casa viv'alma.

Estranhei que Simba não aparecesse, e dei busca arrodeando o ambiente. E lá o vi, sonolento e preguiçoso, um pouco sem viço para uma manhã tão bonita. Ao me reconhecer, por fim abanou o rabo e se pôs a interagir. Mas de tão sujo e empoeirado que estava, decidi levá-lo para um mergulho no rio que corre perto dali.

Simba se animou e logo já era o velho cachorro de rua que conheci, lépido pelas trilhas da cachú, liderando a expedição e farejando calangos pelo mato seco.

Há muito tempo não curtíamos um momento desses. Foi um banho gostoso e refrescante, daqueles que deixam a gente contente pelo contentamento alheio. Daqueles que despertam carinho e aproximam o homem do bicho.

Deixei ele limpinho. E depois mimei. Tirei fotos. Fiz caras e bocas. E dei petisco enquanto o sol lhe secava a pelagem. E também me atirei na água antes de voltarmos, ambos muito felizes.

Cuidei que tivesse água fresca para beber e o servi com a ração da melhor qualita, com o selo "Leite Tipo A" de qualidade! Comeu com a fome de um caminhoneiro.

Já de barriga cheia, pêlos lavados e alma leve, dei-lhe novo banho de carinho, quando ele pôde aninhar a cabeça sobre minhas coxas e grunir gentilezas sobre o quanto sentia minha falta. Fechava os olhinhos e fazia grumf, grumf, grumf, esfregando as bochechas contra minhas mãos. Foram momentos delicados, por conta dos quais revivi o tempo que desfrutei de sua companhia, sentindo os efeitos prazerosos que uma relação afetuosa acaba produzindo.

Com ele já relaxado, refestelado no chão fresco de ardósia da varanda, resolvi que era hora de ir. Faltou combinar com ele.

Situada na área mais baixa do terreno, há que se percorrer uma verdadeira montanha-russa para chegar ou sair da casa, subindo e descendo morros. O primeiro deles - o maior - tem de ser percorrido por inteiro. Íngrime ao extremo, se o carro não vai até o final, tem de voltar tudo de ré, cá embaixo, para tentar subir em novo embalo. Mas quem disse que Simba me deixava ir?

Era começar a subida e lá vinha o cão em meio ao poeirão, latindo e pulando ao meu lado. Eu freiava e mandava: "Pra casa, Simba!!!" -, mas tinha de voltar ao sopé da ladeira para reiniciar a subida, sempre com o Simba no meu encalço, feliz que só ele, achando que a "brincadeira era esta": eu acelerava, ele corria, eu freiava e gritava e logo a gente voltava! E tudo se reiniciava. Eu evitava acelerar muito, não querendo imundiçá-lo com a poeira, mas ele se recusava a parar com a perseguição.

Apelei para mais uns acepipes desidratados, tentando ludibriar o pobre canídeo, escapando enquanto ele os mordiscava. Saí de fininho, e quando pensei estar livre, lá estava ele no espelho retrovisor! Desta vez, não tive dó, pisando fundo no acelerador.

Atingi o cume do morro e segui adiante, sem querer olhar para a retaguarda, descendo nova ladeira e subindo novamente, até chegar ao topo do morro seguinte, para só então dar uma avaliada.
Parei o carro e olhei para trás. A poeira foi baixando, baixando, até que a estrada ficasse limpa. Senti um alívio grande por não avistá-lo. Alívio este que não durou mais que alguns segundos.

Deu para vê-lo ao longe, no topo do primeiro morro, como um simples ponto preto no meio da estrada de terra vermelha; era tocante.

Nem esperei para ver, senão sentiria vontade de voltar e abraçá-lo. Acelerei e desapareci, produzindo nova nuvem de poeira.

Um ponto preto perdido no meio de uma estrada no fim do mundo, pode ser nada, pode ser tudo; pode ser um ponto de partida.